As empresas públicas de transportes tornaram-se um dos maiores cancros do país, embora sem surpresa que mereça essa designação. Se alguma coisa se estranha é que tenham resistido a quatro décadas de depredação e desmandos de todos os actores e decisores que as destruiram pouco a pouco.
Nestes 40 anos, foram usadas por sucessivos governos para fazer política e ganhar eleições, esbanjando lucros que nunca existiram e autorizando a contracção de dívidas que se tornaram insustentáveis. Nestes 40 anos, alimentaram levas de gestores que souberam tratar muito bem dos seus privilégios e mordomias, mas se limitavam a cumprir os ditames dos ministros da tutela, incluindo os que, em nome da paz social, consistiam em ceder a todo o tipo de reivindicações, das mais justas às mais absurdas, apresentadas pelos sindicatos. Nestes 40 anos, a acção conjugada de um poder político perdulário e fraco, porque a olhar sempre para as eleições seguintes, e de um sindicalismo egoísta e irresponsável, porque exorbitando, não raro, na reivindicação de regalias impensáveis noutros sectores, deu no desastre que se vê: sete empresas acumulam uma dívida de 20 mil milhões de euros que todos os anos aumenta muitos mais milhões.