03 maio 2015

Refer e CP triplicariam défice em cinco anos se não houvesse fusão

O défice operacional conjunto da Estradas de Portugal (EP) e da Refer vai atingir o montante de 10,6 mil milhões de euros em 2019 se se mantiver o modelo actual de gestão das duas empresas, sem a fusão que está prevista. Hoje em dia, há uma falha de 3,4 mil milhões de euros entre receitas e despesas no agregado das duas gestoras das redes nacionais. Esta é uma das razões para António Ramalho, presidente da comissão de acompanhamento da fusão entre a EP e a Refer, considerar que o actual de modelo de gestão das duas empresas públicas não é sustentável, embora o responsável não tenha avançado qual o cenário de evolução do défice após o arranque da fusão.

Numa sessão organizada pela Adfersit- Associação Portuguiesa para o Desenvolvimento dos Sistemas Integrados de Transportes na semana passada, sobre a gestão integrada das infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, António Ramalho defendeu as virtudes do processo de fusão em curso e sublinhou que o actual modelo de gestão das duas empresas públicas peca por se basear num rudimentar planeamento integrado e por apresentar fracos resultados económicos, apesar de haver capacidade de investimento. Segundo explicou este responsável na referida sessão de esclarecimentos promovida pela Adfersit, dos actuais 3,4 mil milhões de défice operacional no conjunto das duas empresas, passar-se-á, daqui a cinco anos, para um ‘buraco' de 10,6 mil milhões de euros, prevendo-se, portanto, um acréscimo de cerca de 7,3 mil milhões de euros neste défice operacional das empresas gestoras da redes ferroviária e rodoviária nacionais.

António Ramalho disse, depois, que é necessário um novo paradigma de investimento intermodal nestas duas redes de transportes, que assegurem a prévia sustentabilidade, fundamental para o desenvolvimento do sector; e acrescentou que a coordenação intermodal deve presidir a qualquer decisão de investimento e não apenas à gestão operacional das duas empresas.

Outros dois pontos focados por António Ramalho foram a imprescindibilidade de efectuar análises custo/benefício para enquadrar soluções de ‘coopetição (um misto de cooperação e de competição) modal e não de concorrência entre modos de transporte; e, por fim, o primado da ‘democracia' da procura para determinar decisões de investimento nestes dois sectores.

Desta forma, António Ramalho defendeu que o processo de fusão entre a EP e a Refer tem vantagens na redução de custos, no aumento da receita e na valorização do activo. Na redução de custos, o responsável elencou o corte de custos de ‘procurement' (aquisição de bens e de serviços), nos serviços partilhados e na área corporativa, nos custos operacionais por aplicação das ‘boas práticas' e dos custos em instalações e outras ‘facilities cost'.

Na área das vantagens no aumento da receita, António Ramalho destaca a possibilidade de alargar a base de utilização da infra-estrutura por operadores de comunicações; de garantir remunerações adicionais nas estruturas co-modais; e de alienar ou concessionar ‘facilities' excedentárias.

Em terceiro lugar, de acordo com António Ramalho, a vantagem do processo de fusão entre a EP e a Refer ao nível da valorização do activo passa pelo alargamento do modelo de concessão geral do sector da rodovia para o da ferrovia; garantir um modelo cooperativo na gestão de activos concessionáveis; caracterizar como intermodais certos activos de empresa, e criar espaços integrados de rebatimento modal (passageiros) ou de logística intermodal (mercadorias).

O processo de fusão entre a EP e a Refer está a ser preparado há vários meses e deverá estar juridicamente efectivada entre o final deste ano e o início de 2015. O Governo prevê que as poupanças resultantes desta iniciativa ascendam a 1.021 milhões de euros entre 2015 e 2019.

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